15 anos depois, artigo técnico sobre emissões fugitivas

Publicado originalmente em 2008 na TN Petróleo, o conteúdo técnico de Eliezer Santos inspira uma nova análise à luz dos desafios atuais da indústria e das exigências ESG.

Redação TN Petróleo/Assessoria Clean Environment Brasil

21/08/ :32

Quase duas décadas após sua publicação, o tema do artigo técnico "Emissões Fugitivas – Condutas resultam em ganho ambiental, segurança e redução de custos" , assinado por Eliezer Pereira dos Santos e publicado na revista TN Petróleo em 2008 , volta ao centro dos debates técnicos e ambientais, agora contextualizado aos desafios contemporâneos. A reflexão atualiza o olhar sobre o tema à luz das demandas por sustentabilidade, segurança industrial e conformidade com práticas ESG, em um cenário onde o controle rigoroso das emissões se tornou indispensável para a competitividade e a reputação das empresas.

O texto original, destaque na edição especial da Rio Oil & Gas daquele ano, alertava sobre os riscos das chamadas emissões fugitivas — vazamentos não visíveis a olho nu, muitas vezes imperceptíveis sem tecnologias específicas. Mais de 15 anos depois, os fundamentos continuam válidos, mas agora ganham ainda mais relevância diante do avanço tecnológico, do endurecimento regulatório e da crescente pressão do mercado por práticas ambientais robustas.

Avanços tecnológicos: evolução, mas sem substituição total

Desde 2008, o monitoramento de emissões fugitivas evoluiu significativamente. As emissões fugitivas não-intencionais, conforme a UNECE (2019), consistem em liberações involuntárias, principalmente de metano, para a atmosfera, provenientes de desgastes de peças, falhas em vedações, corrosão ou defeitos de fabricação — podendo ocorrer em válvulas, flanges, bombas e compressores ao longo das instalações de E&P.

A implementação de programas rigorosos de monitoramento, medição e reparo, alinhados à metodologia internacional LDAR (Leak Detection and Repair) — adotada desde a década de 1970 pela EPA e reconhecida como Método 21 em 1983 — continua sendo uma das melhores tecnologias disponíveis para mitigar essas perdas.

Apesar do avanço de tecnologias como drones com câmeras de imageamento óptico (OGI), sensores remotos, IoT e satélites para mapeamento de emissões de metano, o Método 21 da EPA permanece como referência normativa essencial. Nesse método, inspeções in loco são realizadas por técnicos com instrumentos como o TVA, que detectam e quantificam vazamentos com alta precisão.

"O mercado trouxe inovações, como câmeras sofisticadas e sensores fixos conectados à nuvem. Contudo, o equipamento TVA, para o Método 21, continua extremamente relevante, atualizado pelo fabricante e com excelente desempenho na quantificação de vazamentos", explica Eliezer Pereira dos Santos, engenheiro sanitarista, especialista em segurança do trabalho pela UNICAMP e diretor de negócios da Clean Environment Brasil.

Essas inovações acrescentaram ganhos, como inspeções em locais de difícil acesso e automação de registros. "Hoje, falamos também no Smart LDAR, que combina câmeras OGI, tecnologias digitais, dashboards, nuvem e indicadores ESG, tornando o controle de emissões mais estratégico, visível e integrado à gestão", complementa.

Regulação mais rígida e pressão ESG

O cenário regulatório mudou radicalmente. "Praticamente todas as grandes empresas estão sob pressão para monitorar e gerenciar suas emissões fugitivas. A lógica ESG exige controle, documentação, auditoria e reporte transparente desses dados, especialmente para empresas listadas em bolsas de valores", observa Eliezer.

Além da exigência legal, o controle rigoroso das emissões se tornou questão de reputação e credibilidade. "Negligenciar isso impacta a percepção do mercado e dos stakeholders sobre a responsabilidade socioambiental da empresa", reforça.

LDAR como estratégia e vantagem competitiva

O programa LDAR, recomendado desde o artigo original, se consolidou como ferramenta central em estratégias de sustentabilidade industrial.

O uso combinado de tecnologias — como câmeras infravermelhas (OGI) e medições pelo Método 21 — trouxe ganhos ambientais e reconhecimento em relatórios ESG. Casos internacionais, como ExxonMobil e Shell Canadá, demonstram a eficácia do programa LDAR aliado a tecnologias emergentes, como sensores inteligentes, drones e análise de dados em tempo real, ampliando ganhos ambientais e econômicos.

Exemplo: a ExxonMobil reduziu em 87% as emissões fugitivas de COVs em seu complexo de Baytown, Texas, em 18 meses, economizando cerca de US$ 4,5 milhões anuais com recuperação de produto. A Shell Canadá também integra drones e tecnologias avançadas, aumentando a eficiência de suas operações.

Desafios que permanecem (e alguns que cresceram)

Apesar dos avanços, obstáculos persistem. "Custos de investimentos e a escassez de mão de obra especializada são desafios. A complexidade das plantas modernas, com milhares de componentes suscetíveis a vazamentos, torna o monitoramento uma tarefa desafiadora", avalia Eliezer.

Ele lembra que fontes de vazamentos podem ultrapassar 2,5 milhões de pontos em uma planta, exigindo inventários precisos e inspeções periódicas. Problemas como falta de integração entre setores, subnotificação e resistência à visão de LDAR como investimento também são barreiras.

De passivo ambiental a ativo estratégico

Eliezer destaca que o controle de emissões deixou de ser apenas uma obrigação ambiental. "Reduzir perdas traz economia e valor de marca. Consumidores e investidores preferem empresas comprometidas com a sustentabilidade, o que se traduz em vantagem competitiva. Quem não entender isso, ficará para trás".

Sobre o autor: Eliezer Pereira dos Santos é Diretor de Negócios da Clean Environment Brasil, Engenheiro Sanitarista pela PUCCAMP, com especializações em Segurança do Trabalho (UNICAMP) e Gerenciamento de Projetos (FGV). Atua no mercado de tecnologias ambientais desde 1997, com vasta experiência em gerenciamento de áreas contaminadas, monitoramento ambiental, segurança industrial e sustentabilidade.